Agora, sim, vamos provar o Teorema. Não esqueça de olhar as notas de rodapé caso surja alguma dúvida.
Teorema:
Todo polinômio com coeficientes complexos possui uma raiz complexa.
Demonstração:
Se você não leu a Parte 1, clique aqui antes de ler a demonstração.
Tome
. Se
denota o o polinômio
com os coeficientes conjugados (conjugação complexa), note que o polinômio
pertence à
(pois
). Além disso,
tem raiz em
se, e somente se,
tem raiz em
[1]. Seja
um corpo que contém todas as raízes de
. Isto é,
Note que o grau de
é
. Podemos escrever
como
, com
ímpar. Façamos indução em
. Para
, temos que o grau de
é
, e portanto,
tem raiz real (pois
é ímpar). Agora, fixe
e considere o conjunto
Veja que
tem exatamente
elementos [2]. Defina
. Agora, considere o polinômio
Note que o grau de
é
. Como os coeficientes de
são expressões simétricas em
, também o são em
. Desta forma,
[3]. Sabendo isso, note que a hipótese de indução se aplica em
e, portanto,
tem raiz em
. Digamos que esta raiz seja
com
. Como existem infinitas escolhas para
e finitas possibilidades para
e
, então existe
tal que
Através de combinações lineares de
e
, podemos concluir que
e
. As raízes do polinômio quadrático
são justamente
e
. Portanto,
e
são números complexos [5]. 
Notas:
[1] De fato, suponha que
tem uma raiz
. Então, devemos ter
ou
. Se
, acabou. Se não,
. Conjugando os dois lados, temos
. Logo,
também tem raiz complexa.
[2] Fixe
. Então,
varia de
a
e obtemos
elementos diferentes. Fixe
, então
varia de
a
e obtemos
elementos. Repetindo o processo até
, teremos no total
elementos em
.
[3] Esta parte pode ser confusa para quem não está acostumado com polinômios simétricos, mas vou tentar esclarecer. Os coeficientes de
serão expressões simétricas elementares em
. Como cada
é simétrico em
, então a expressão inteira será simétrica em
. Se você ainda tem dúvida disso, pegue um papel e escreva um caso pequeno (por exemplo,
) e talvez fique mais claro. O fato de
pertencer a
vem do Corolário do "Requisito 4" da Parte 1.
[4] Existem, no total,
pares ordenados de índices
para formar os
. Posso representar a raiz complexa de
como um par ordenado do tipo
, em nossa demonstração, o par que apareceu foi
. Como posso escolher infinitos números reais
(distintos) para construir
e o polinômio
, em alguma dessas escolhas vou repetir algum par
que já havia aparecido como raiz de algum
. É nada mais que o Princípio da Casa dos Pombos.
[5] Este fato segue diretamente do que mostramos no "Requisito 2" da Parte 1.
Teorema:
Todo polinômio com coeficientes complexos possui uma raiz complexa.
Demonstração:
Se você não leu a Parte 1, clique aqui antes de ler a demonstração.
Tome
Note que o grau de
Veja que
Note que o grau de
com
Através de combinações lineares de
são justamente
Notas:
[1] De fato, suponha que
[2] Fixe
[3] Esta parte pode ser confusa para quem não está acostumado com polinômios simétricos, mas vou tentar esclarecer. Os coeficientes de
[4] Existem, no total,
[5] Este fato segue diretamente do que mostramos no "Requisito 2" da Parte 1.
5 comentários:
Acho que essa deve ser a melhor demonstração do teorema fundamental da álgebra.
A matemática é a mais elementar possível, pelo menos é o que parece, sem contar que usa uns argumentos meio combinatórios legais.
Ótimo post, parabéns. =P
Muito interessante a demonstração.
Há outra, bem interessante, baseada em Análise Complexa. É corolário do seguinte teorema: Se f é inteira e lim z --> oo f(z) = oo, então f se anula em C.
Prova: Se f não se anular em C, então g = 1/f é inteira e lim z --> oo g(z) = 0. Como g é contínua (pois é inteira)e tem limite finito no infinito, g é limitada em C. Pelo Teorema de Liouville (funcões inteiras e limitadas são constantes), segue-se que g é constante. E como lim z --> oo g(z) = 0, temos que g é identicamente nula, o que contraria a definicão de g como g = 1/f. Logo, f se anula em C.
Todo polinômio P é uma função inteira. E se P não for constante, então lim z --> oo P(z) = oo. Logo, segue-se do teorema que vimos que P se anula em C.
Artur, da lista OBM
Olá, obrigado pelo comentário. Realmente, com um pouco de análise complexa é bem mais fácil demonstrar este teorema. Eu conhecia uma demonstração muito parecida com essa, essencialmente é a mesma coisa (usa o Teorema de Liouville etc.).
fica mais façil ainda se usar teoria de Galois.
nossa, muito interessante a forma de demostrar esse teorema, faço mateḿatica e estou maravilhada com esse universo de conhecimento...
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