Competição
A competição é a forma mais antiga de se trabalhar. Já existia muito antes do homem surgir e sempre fez parte de nossa civilização. Está presente tanto na indústria quanto no mundo acadêmico. Cedo ou tarde você terá que enfrentá-la.
Vou dar um exemplo de mundo industrial e outro do mundo acadêmico. Você, com certeza, já deve ter ouvido falar em "departamento" de uma empresa. Um "departamento" é uma célula isolada dentro de uma empresa, com suas próprias funções e objetivos. O que acontece é que todas as células querem crescer e para isso começam a competir umas com as outras. Por exemplo, segurando informações importantes para outros departamentos ou ainda repassando informações falsas.
No mundo acadêmico, você pode encontrar coisas parecidas, como pesquisadores que liberam seus resultados, mas não seus métodos, impedindo que outros possam dar prosseguimento a pesquisa e ampliá-la. Pior ainda, porém não tão raro, é ter pesquisadores que roubam trabalhos, ou desconsideram os colaboradores, e os publicam apenas sob seus nomes.
Não preciso dizer que esta forma de trabalhar não só é primitiva como completamente limitada e ineficiente. Tanto para a pessoa, ou empresa, quanto para o resto do mundo, que poderia desfrutar de resultados sempre melhores.
Colaboração
A colaboração é o passo seguinte na evolução das relações de trabalho. Ao invés de cada um trabalhar tendo em vista apenas o retorno pessoal rápido, algumas pessoas perceberam - infelizmente, o número ainda é baixo - que é muito mais interessante trabalhar com foco no produto, pois criando um produto melhor, tem-se um retorno maior a longo prazo, seja pelo crescimento da empresa, aumento no número de vendas, ou criando um produto de gratuito e de qualidade que todos possam usar.
Um grande exemplo disso é a wikipedia. Ela é desenvolvida em forma colaborativa e é uma das maiores fontes de informação que existe. Quem já não entrou na wikipedia pelo menos uma vez que atire a primeira pedra.
Alguém poderia dizer que o desenvolvimento colaborativo é bagunçado. A maior prova contrária a isso são as comunidades Linux, que coordenam centenas de pessoas ao redor do mundo para produzirem uma nova versão de uma determinada distribuição de tempos em tempos.
O trabalho colaborativo é mais organizado e produtivo porque, dentre outras coisas, ao invés de uma pessoa ter um chefe para cobrá-la, ela tem toda a comunidade e a experiência mostra que a comunidade não é tão tolerante quanto um chefe, principalmente porque é bem mais fácil enganar um chefe do que toda uma comunidade.
E se você pensa que o trabalho colaborativo é menos rentável - afinal a grande parte do esforço colaborativo é em cima de software livre - está enganado. Muitas pessoas e empresas ganham dinheiro fornecendo serviços para empresas em cima de software livre, inclusive criando novas comunidades específicas - modelo colaborativo - para uma determinada solução. Um bom exemplo disso é a empresa Redhat[1], que tem uma distribuição, o Redhat Enterprise Linux, que é vendida para empresas ou instituições junto com um pacote de programas e servições criados pela própria Redhat para aumentar a segurança e facilitar o uso e manutenção do sistema. Ela também ganha dinheiro certificando pessoas para o uso de seus sistemas.
Essas mudanças também estão ocorrendo dentro das empresas, onde a divisão por departamentos está dando lugar a um modelo integrado, onde o foco está no processo. Recentemente eu li um livro muito bom sobre o assunto, chamado [Peopleware]. Ele trata dessa mudança que vem ocorrendo nas empresas e diz como lidar com as pessoas - peopleware - que são a principal resistência às mudanças.
Considerações finais
O movimento do software livre nunca foi tão forte e o Linux nunca foi tão popular. O mercado e os usuários vão evoluindo com o passar dos tempos. O que era verdade a uns anos trás passa a não valer mais hoje.
O que tenho visto em todas as frentes parece apontar para um mesmo destino: colaboração. Com a internet como a de hoje, nunca foi tão fácil colaborar. Temos laboratórios e usuários de todos os cantos do mundo trocando informações e soluções. Essa troca, cada vez mais massiva, gera cada vez mais conhecimento. Isto se torna um ciclo que faz com que a velocidade e a quantidade de conhecimento no mundo aumentem cada vez mais.
É por esses motivos que eu defendo o uso de soluções de código aberto e o uso de Linux.
Espero que tenham gostado do texto.
Notas:
[1] A Redhat também mantém a distribuição do Fedora Linux, que pode ser baixada gratuitamente em português aqui.
[Peopleware] Peopleware - como trabalhar o fator humano nas implementações de sistemas integrados de informação (ERP), Herman F. Hehn, Editora Gente. ISBN: 85-7312-211-0
Post Scriptum
Para quem não sabe, ISBN é um identificador único de cada livro, como um número de RG. Todos eles possuem, normalmente ele fica atrás do livro, em cima do código de barras.
Um comentário:
Gostei. Nunca tinha nem pensado no tema.
O pior é que é uma coisa tão óbvia. Se cada pessoa trabalha sozinha, a evolução vai na velocidade de trabalho de uma pessoa. Mas se tem mais gente trabalhando em cima de uma coisa, ela deve evoluir mais rápido.
Por quê será que as pessoas não pensam nisso? Bando de estrelinhas.
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