E aí galerinha do LeGauss
Conforme os estudos vão ficando mais tensos os post vão ficando mais escassos hehe, mas vou tentar me policiar para postar mais (agora que as aulas estão começando etc).
Nesse post vou provar o que é basicamente o teorema da decomposição primária e usar isso para provar que o espaço de soluções de uma EDO de ordem
linear com coeficientes constantes tem dimensão
, o que é na verdade uma aplicação legal do teorema de decomposição primária.
Eu tentei explicar tudo bem direitinho (quando não expliquei deixei claro o que estava assumindo) durante o post, principalmente coisas que são "assumidas" (na verdade completamente omitidas) na maioria dos livros de cálculo e EDO's que você vê por aí, esse teorema é bem fundamental, então se você assume muitas coisas tudo parece besteira. É normal você perguntar "Qual é a solução de uma EDO desse tipo?" para uma pessoa e ela saber responder, mas como viu um método bem ad hoc (thumbs up para o meu latim xD) de como encontrar a solução, não saber justificar por que todas soluções são realmente dadas por aquela forma. É nesse sentido que esse teorema é legal.
Depois desse papo vamos à matemática.
Conforme os estudos vão ficando mais tensos os post vão ficando mais escassos hehe, mas vou tentar me policiar para postar mais (agora que as aulas estão começando etc).
Nesse post vou provar o que é basicamente o teorema da decomposição primária e usar isso para provar que o espaço de soluções de uma EDO de ordem
Eu tentei explicar tudo bem direitinho (quando não expliquei deixei claro o que estava assumindo) durante o post, principalmente coisas que são "assumidas" (na verdade completamente omitidas) na maioria dos livros de cálculo e EDO's que você vê por aí, esse teorema é bem fundamental, então se você assume muitas coisas tudo parece besteira. É normal você perguntar "Qual é a solução de uma EDO desse tipo?" para uma pessoa e ela saber responder, mas como viu um método bem ad hoc (thumbs up para o meu latim xD) de como encontrar a solução, não saber justificar por que todas soluções são realmente dadas por aquela forma. É nesse sentido que esse teorema é legal.
Depois desse papo vamos à matemática.
Teorema Seja
um operador linear num espaço vetorial
sobre um corpo
. Se
é um polinômio mônico tal que
com cada
irredutível e
, denotando
então:
(i)
(ii) Cada
é invariante por
Demonstração
Obs: Não há restrição sobre a dimensão de
A ideia da demonstração é encontrar as projeções
tal que
, lembrando que a projeção é uma função tal que
(i)
(ii)
(projetar uma projeção não faz nada)
(iii)
(isso força a decomposição a ser uma soma direta)
Vamos procurar essa decomposição obviamente usando
e 
Basta fazer
, como os polinômios
são primos entre si existem
tais que

(Isso é consequência de que o ideal gerado pelos
é o anel todo, caso contrário ele seria um ideal próprio de
que é um anel principal e teria um único gerador, que seria um polinômio que diviria todos
contrariando o fato de que eles são primos entre si.)
Note que se
então
divide
.
Fazendo
é fácil ver que as funções
cumprem os requisitos, como
temos que
e como
divide
temos que
.
Além disso
logo a imagem de
está contida em
para mostrar a continência contrária basta notar que se
, ou seja,
temos que

Pois
divide
para
, logo
.
O fato de que eles são invariantes por
é evidente pois se
então
, o que termina a demonstração do teorema.
Obs: Quando
tem dimensão finita e
é o polinômio mínimo de
esse é basicamente o teorema da decomposição primária.
Agora vamos usar esse teorema para provar coisas sobre o espaço de soluções de uma EDO.
Considere o espaço vetorial
de funções complexas
,
vezes continuamente diferenciáveis. na verdade vamos considerar o contradomínio complexo só para conseguir fatorar polinômios em seus fatores lineares, note que o contradomínio não faz muita diferença no conceito de derivação, noções como holomorfia aparecem quando você tem funções de domínio complexo, isso é um pouco delicado conceitualmente então se quiser você pode simplesmente assumir que nosso polinômio se fatora em polinômios lineares, pois só iria usar o contradomínio complexo para ter o direito de invocar o teorema fundamental da álgebra, mas o caso complexo é bem importante na física por exemplo, muitos modelos dados por polinômios de raizes complexas são importantes, como por exemplo os modelos de osciladores etc.
Agora considere o subespaço vetorial
de funções
tal que

A primeira coisa que precisamos notar é que
, a derivação, é um operador linear em
, que ela é linear é claro o que não é claro é que para toda
temos que
.
Primeiramente note que
, isso é consequência de que

Mas o lado direito dessa equação é uma função
(pois
) logo
o que por definição diz que
e que
, agora usando a linearidade da diferenciação é só notar que

(Note que antes não poderíamos fazer essa conta já que não sabíamos que
, além disso note que poderíamos continuar o nosso argumento e mostrar que na verdade se
então
, mas não vamos precisar disso)
Temos então que
, isso é
é um operador linear em
e que se denotarmos
então
como operadores.
Usando o teorema fundamental da álgebra podemos escrever
e denotando
o nosso teorema nos da que

Isso é toda função
se escreve como
onde
isso é 
Logo reduzimos o estudo da equação
para o estudo da equação
que é muito mais simples.
Note que usando propriedades da derivada é fácil ver que
(é só usar a regra do produto e da cadeia) então temos que
mas isso ocorre se e somente se
é um polinômio de grau menor igual a
, isso é

Para deduzir isso precisamos usar o teorema fundamental do cálculo para funções com contradomínio complexo, como eu disse isso não faz muita diferença é só escrever
e usar que
e 
Mas como eu disse essas coisas são conceitualmente delicadas se você está desconfortável com isso assuma o caso real.
Ou seja se e somente se
é da forma

Isso significa que as funções
geram o espaço das soluções de
como essas funções são obviamente linearmente indepentes temos que elas formam uma base para o espaço de soluções que por sua vez tem dimensão 
Agora usando nosso resultado anterior temos, graças à decomposição que obtivemos, que o espaço de soluções de
será gerado pelas funções
para
e
que são todas funções linearmente independentes, logo o espaço de soluções tem dimensão igual a
o grau do polinômio
.
C.Q.D
A referência para esse teorema foi o livro Linear Algebra do Hoffman e Kunze, mas mesmo nesse livro ele faz algumas afirmações que escondiam bastante coisa (como você vai perceber se comparar o que está escrito aqui com o que está no livro), mas esse não deixa de ser um dos melhores (dentre os que eu conheço, o melhor) livros de álgebra linear por aí.
Espero que tenham curtido o post.
May the math be with you.
(i)
(ii) Cada
Demonstração
Obs: Não há restrição sobre a dimensão de
A ideia da demonstração é encontrar as projeções
(i)
(ii)
(iii)
Vamos procurar essa decomposição obviamente usando
Basta fazer
(Isso é consequência de que o ideal gerado pelos
Note que se
Fazendo
Além disso
Pois
O fato de que eles são invariantes por
Obs: Quando
Agora vamos usar esse teorema para provar coisas sobre o espaço de soluções de uma EDO.
Considere o espaço vetorial
Agora considere o subespaço vetorial
A primeira coisa que precisamos notar é que
Primeiramente note que
Mas o lado direito dessa equação é uma função
(Note que antes não poderíamos fazer essa conta já que não sabíamos que
Temos então que
Usando o teorema fundamental da álgebra podemos escrever
Isso é toda função
Logo reduzimos o estudo da equação
Note que usando propriedades da derivada é fácil ver que
Para deduzir isso precisamos usar o teorema fundamental do cálculo para funções com contradomínio complexo, como eu disse isso não faz muita diferença é só escrever
Mas como eu disse essas coisas são conceitualmente delicadas se você está desconfortável com isso assuma o caso real.
Ou seja se e somente se
Isso significa que as funções
Agora usando nosso resultado anterior temos, graças à decomposição que obtivemos, que o espaço de soluções de
C.Q.D
A referência para esse teorema foi o livro Linear Algebra do Hoffman e Kunze, mas mesmo nesse livro ele faz algumas afirmações que escondiam bastante coisa (como você vai perceber se comparar o que está escrito aqui com o que está no livro), mas esse não deixa de ser um dos melhores (dentre os que eu conheço, o melhor) livros de álgebra linear por aí.
Espero que tenham curtido o post.
May the math be with you.
2 comentários:
Legal o post, Gabriel.
Como corolário do primeiro resultado sai uma coisa bem legal.
Uma das questões centrais na álgebra linear e suas aplicações é descobrir quando os operadores são diagonalizáveis ou não. Sabemos que quando o polinômio característico se fatora em termos lineares distintos, o operador é diagonalizável. Isto é uma condição suficiente, mas não necessária, pois a polinomio caracteristico da identidade é (x-1)^n, por exemplo.
Mas uma condição necessaria E suficiente para que um operador seja diagonalizável é que o polinomio Mínimo se fatore em termos lineares distintos. E isso segue do primeiro teorema...
Nós da União dos Blogs de Matemática, temos o prazer de lhe comunicar que o seu blog foi escolhido para ser um filiado. Você deve publicar um post de divulgação, ser um seguidor da UBM e colocar um selo a sua escolha. Saiba mais em
http://ubmatematica.blogspot.com/
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